Se eu tivesse dois
pedaços de pão!
Um eu trocaria
pelo branco ramo
de jacinto. Pois
a flor me daria
a Beleza e sinto
que a pura fragrância
me transformaria.
Se eu tivesse dois
pedaços de pão…
Esperado dia!
por jacintos brancos
um eu trocaria.
Quando a poesia é cultivada em silêncio — sem preocupação de se mostrar ou de ser logo publicada —, por certo ganha uma camada a mais de autenticidade. Faz com que a figura do autor recue de seu poder inato e ganhe serenidade com a criação; mais que isso, ele se coloca à escuta das próprias palavras que, afinal, pertencem ao mundo antes de chegarem aos versos do poeta. E, quando isso acontece, os poemas permanecem na gaveta (e no tempo) à espera de uma maturação interna que, ao cabo, fará toda diferença no seu modo de dizer. A cada novo rabisco ou correção, ocorre a depuração em nome de uma poética limpa e certeira. Ecléa Bosi pertence a essa linhagem de poetas que se subsumem à poesia, por força do encanto e da humildade.
Fernando Paixão
In: Paixão, Fernando. Poeta da casa do silêncio. São Paulo – SP: Jornal da USP, 11/01/2019. Em https://jornal.usp.br/artigos/poeta-da-casa-do-silencio/
Fernando Paixão é poeta, crítico literário e professor de Literatura Brasileira do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP
Ecléa Bosi, nascida Ecléa Frederico (São Paulo, 14 de outubro de 1936 — São Paulo, 10 de julho de 2017), foi uma psicóloga, professora e escritora brasileira. Foi professora emérita e titular do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho no Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP). Dentre suas obras mais importantes estão “Memória e sociedade”, “Cultura de massa e cultura popular”, “Leituras de operárias”, “Velhos amigos”, “O tempo vivo da memória” e a antologia de Simone Weil. (Wikipedia)