POESIA

Sobre a queda de uma pétala

tratado I, art. 1, § 1.º (p. 23)

luz egressa
entre agruras
uma pétala
é ruptura
quando desce
e fulgura
feito fresta
(foz de fuga)
contra pedras
intramuros

§

tratado I, art. 2, § 4.º (p. 36)

fêmea flava
vem e esmaga
o antro macho
ou lugar fálico
e calca o caos
do mineral
que abrutalha
com blecautes
o lar solar
da humanidade

§

tratado II, art. 3, § 1.º (p. 75)

abscisão: alfanje
de flamas
que decepa a pétala
amarela
e então
planando da planta
à pedra
(preta pedra)
ela vem: queimando
fel e pez inane

§

tratado II, art. 4, § 1.º (p. 85)

a flor frange
(bolsa bamba)
sob a brisa
(bomba lisa)
e sua ponta
(pingo longo)
flutuando
(lança d’anjo)
rasga a vida
(rocha ríspida)

§

tratado III, art. único, § 4.º (p. 100)

sob torres
de sombras
o calabouço
ou poço
de moncos e cocô
esgoto morto: icor
onde roncam
e irrompem
os cachorros
do enxofre

§

tratado IV, art. 3, § 1.º (p. 129)

incisivo círculo
florífero:
o brio
livre das fímbrias
que a brisa
griva e ativa
abrindo
frinchas e fisgas
vias e vincos
na letargia

§

tratado IV, art. 4, § 1.º (p. 139)

lindo folículo
decíduo
esmerila milhas
de abismo: partindo
tricas: derruindo
arrimos
e destruindo
as galerias líticas
do presídio
cris: antilírico

§

tratado IV, art. 6, § 3.º (p. 161)

metafísico ímã
ou isca
do infinito
que tira
sua dynamis
do declínio
para atrair
ao cimo
o rupícola
Homo abyssi

Adriano Wintter, poeta e tradutor, nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É autor de A Busca da Luz (1991–1992), Luz Léxica (1993–1995), Apotheosis (1996), Polimusa (2010), Mero Verbo (2010), Porto Alegre Desolada (2011), Clara Mimese (2012), O Ciclo do Amor Recomeça (2013), Ágrafo (2014), O Plectro & as Horas (2015), Quórum da Luz (2016), Sob o Baque do Belo (2017–2021) e Totelimúndi (2022), inéditos reunidos na Suma Lúcida (2023). Publicou em antologias e coletâneas de premiações. Foi traduzido ao inglês, espanhol e catalão, colaborando em revistas da Espanha (sèrieAlfa), Portugal (Triplov, Caliban, Devir, Linguará), México (Separata), Argentina (Experimenta), Chile (Cinosargo) e Colômbia (Otro Páramo); além das publicações nacionais: Revista da Academia Brasileira de Letras, Sibila, Acrobata, Suplemento Literário de Minas Gerais, Qorpus (UFSC), Eutomia (UFPE), Musa Rara, Relevo, Sepé, Ruído Manifesto, 7Faces, Poesia Viva, Correio das Artes e Babel. Traduziu, entre outros: Alfredo Fressia (Uruguai), Fernando Bensusan (Espanha), José Kozer (Cuba) e Victor Sosa (Uruguai).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *