José Francisco Botelho
Bagé – RS
O convento de Mopu, empoleirado num precipício do Himalaia e constantemente varrido pelos ventos, é morada e santuário de uma congregação de freiras anglicanas. Outrora, o local foi palácio e harém de um grande rajá. Durante o período final do domínio inglês na Índia, as irmãs anglicanas tentam estabelecer um hospital e uma escola naquele ambiente ao mesmo tempo inóspito e hipnótico. A população local vai gradativamente se tornando tão hostil quanto o clima, e, para sobreviver, as freiras contam apenas com a ajuda de um jovem oficial inglês, cuja presença galharda e viril acaba por desencadear um redemoinho de ciúme, paranoia e alucinação nas atribuladas alturas do Himalaia. “Narciso Negro” é um dos filmes visualmente mais impressionantes da História, graças à direção de Michael Powell e Emmerich Pressburger, e à fotografia de Jack Cardiff. Para criar o vertiginoso cenário do convento-harém, foi usada a técnica do matte painting, que consiste em contrapor cenários pintados às imagens gravadas, criando uma sensação de grandeza, profundidade e ameaçadora transcendência. O convento de Mopu, os vales e as montanhas parecem compor uma espécie de pesadelo paradisíaco, cujo efeito verossímil é o enlouquecimento. Temos aí um filme em que o personagem principal não é uma pessoa, mas uma paisagem. Com Deborah Kerr, Flora Robson, Jean Simmons, David Farrar e a inesquecível Kathleen Byron.
Narciso Negro (Black Narcissus, 1947) está temporariamente indisponível no MUBI e no Prime Vídeo.