Tatear com os dedos
As formas sedimentadas
compõem o centro
um acidente forma os limites das fronteiras
O acidente sou eu
§
Para erguer uma paisagem
Um semicírculo
quebrado
é suficiente
para fazer nascer uma montanha
§
Vácuo
Minuciosamente
seus dedos
remontavam os traços
eis o nascimento do seu vocabulário
onde cor e corpo
expressam o som
das palavras ausentes
§
Inventar uma imagem ou do desejo de povoar o mundo
Afundar na estrada vermelha
que antes era uma espada
e antes ainda um corte avulso
*
Vermelho
como vermelho é o brado
§
Fora do tempo
Poderíamos
nos encontrar
sob o mesmo Sol
que diferente de antes
corre rápido no céu
§
Mulher-matéria
Antes das máquinas
e das placas
as mãos
Majestosa é a mulher
que primeiro lapidou
o aço
Letícia Miranda (1996) é poeta, artista visual e professora-pesquisadora. Vive e trabalha no Paranoá – DF. É co-fundadora e integrante do Clube de Colagem de Brasília (CCBSB), do grupo Antiquário, onde atua ao lado do músico Lucas Marques, e do Coletivo Zarafas. É formada em Letras Português pela Universidade de Brasília (UnB, 2017), especialista em Fotografia pela Faculdade Unyleya e Espaço f/508 de Cultura (2019) e mestra em Artes Visuais pela UnB e doutoranda em Artes Visuais pela UnB. Em 2022, publicou seu primeiro livro de poemas intitulado “A Suspensão de Tomie Ohtake”, pela Editora Litteralux, de onde integram estes poemas.