Camões hardcore
Cabeluda, mata labial – teúda e manteúda
Teúda de se ter – manteúda de se manter
Quente voluntária e repleta de vontades
Sonora, sim senhora, durante e a posteriori
Sonâmbula não, porque está sempre alerta e
Pronta como uma letra grega:
Lambda ou delta inscritos na cunilíngua de
Camões e bráulios: lambidas e chupões
Na melhor dicção da língua luso-brasileira e
Grega com muita safadeza:
Com bo ou bu, delícia de dialogar
Sugar em oração ou ereção
Safo safada bem ou mal-amada:
Se a vida da gente é luta renhida,
A grande batalha tem início na
Teia de fios lábios dentes da crica.
À mata de pentelhos com jeito e falsete:
Cabisbaixa ou capixabeira sob golpismo.
Cio de intrigas nau sem eira nem beira.
Ai de mim – homem ereto e pontiagudo
À procura da fruta tropicana e tropical.
Atado à flor de cacto cacófato e coração:
Alma minha que te partiste tão descontente!
La chatte de Dina vs. la boceta de Pandora:
Alma minha que te partiste tão gentilmente!
§
Desgrandeza
Como tu és colossal:
teus antebraços são
rios que se cruzam e
reinam em alto-mar.
Teus braços e bíceps
são um porto seguro:
maravilha de quilha!
Mas – quanta ironia –
vais naufragar feio
na antessala do azul.
Porque és mínimo –
ó ditador máximo! –
meio-termo entre o
tudo e o nada que
Camões vociferou:
animal desgrande!
O mar muda de cor
o país engasga com
a maresia fascista.
Uma onda de sal
leva o barquinho
doce ao além-mar.
Ó cravo – ó rosa,
sede bem-vindos à
farsa salazarista!
Quanto do teu sal –
para livrar o poema e
salgar o combate –
ó mar de Portugal?
§
Entrelinhas
Entre ipê e cerejeira, cultive laranja
Entre início e fim, invista no equilíbrio
Entre dia e noite, marque um encontro
Entre ser e estar: deixe star com leveza
Entre fusca e kombi – vá de carona
Entre amar e amarelar, não pense duas x
Entre ouro e prata: varal de poesias
Almir Zarfeg é poeta, jornalista e ficcionista. Estreou na literatura com o livro de poemas “Água Preta” em 1991, atualmente na 5ª edição (Lura, 2021). Mais recentemente, publicou a narrativa “Homem-gato, homem-feito” (Uiclap, 2024) e faturou alguns prêmios literários, como Ecos da Literatura, Concurso Internacional da UBE-RJ para obras inéditas, Prêmio Apperj (pelo conjunto da obra) e Prêmio Literário Abrames. Os poemas acima “Camões hardcore”, “Desgrandeza” e “Entrelinhas” foram premiados no Prêmio OffFlip de Literatura 2025, no Festival de Poesia de Lisboa 2024 e no Prêmio Yoshio Takemoto 2025, respectivamente. Durante a 23ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), vai lançar “Ave, Aldravia!” pelo Grupo Editorial Caravana. Zarfeg é presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras (ATL).
Um comentário sobre “Três poemas inéditos”