POESIA

Diário de separação (fragmentos), de Camila Prando

DIA [ 0 ]

Não divido fotografias
não corto
fotografias ao meio

Coloco fotografias em
caixas de papelão
ásperas
elas sobem
pelas paredes
as fotografias
agarram a casa a um passado
feito uma pinça num único pelo

§

DIA [ NOITE, 2 ]

Leio cartas
de tarô
como se fossem postais
de um remetente desconhecido

{ }

Atravesso a sala
de três metros
quadrados
com os lençóis nas mãos
como se carregasse
um corpo sem ossos

§

DIA [ 6 ]

Para acender o forno
palitos de fósforos longos
retirar a bandeja
que cobre o filete do gás
riscar uma caixa inteira
de palitos de fósforos
vou me deitar
com fome
de madrugada
me desperto
a casa incendiada

§

DIA [ NOITE, 6 ]

A filha me chama
às quatro da manhã
eu não entendo
o que ela diz
enquanto dorme
ponho sobre seu rosto
uma coberta
rasgada

§

DIA [ 7 ]

dois ovos
triturados
amanhecem
na varanda de casa
entre as flores
amarelas
no vaso
nenhum pássaro
voa

Camila Prando nasceu em Telêmaco Borba, bem perto do rio Tibagi. Escreveu e publicou “Dicionário de Palavras Subterrâneas” (editora Avá), “O presente da Olivia” (editora Metanoia), e alguns poemas e prosas em revistas literárias. Os poemas de Camila Prando que aparecem nesta seleção estão publicados no livro “Diário de separação – palavras para uma notação matemática” (Macabéa, 2024).

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