eu sou eu dentro de outro
e de outro
ainda de outro e outro
tantos em um
tantos e tantos
de nenhum
eu sou eu dentro de um livro
de um relógio
do vento
dentro de dentro
de dentro
da luz
sou eu dentro de baixo
de fora
de vidros
eu dentro de dentro de espelhos
de imagens marcadas para morrer
nascido sem nascimento
eu dentro do mar
afogando-me
lento e triste
eu dentro de outro
como caixa sobre-humana
sem repostas
como ferro amalgamado a outro
e a outro
derretendo-me
sendo eu dentro de dentro de espaços unilaterais
verticais
desumanos
eu no homem do outro
dentro do abismo
náufrago…
§
esta é a cidade que não é minha
este sou eu que não me pertenço
aquilo é uma luz em meio a outras
há automóveis e cruzamentos
há um coração que pulsa
um homem ao relento; digo: muitos
a sensação de frio
a sensação de descaso
os vazios peremptórios
as grandes massas aleatórias
os inevitáveis tumultos
os bem nutridos, os depostos
os que já partiram.
esta cidade é ausência
um reflexo intestino
uma figura aleatória.
sim, esta cidade não está aqui…
§
imagens que foram extintas…
sistemas oriundos de desertos de sombras
silêncios nunca apaziguados.
o que há, não há, está desfeito
o que se vê são imagens que já foram extintas.
mesmo enquanto havia os sopros e o amor extasiava
também a sensação dos vazios eram inequivocamente sentidos.
tríplices motivos, amplitudes indesejadas, auroras desfeitas
vozes que percorriam inutilmente as horas incendiadas.
sim, já parti, e de tudo o que havia, nada resta
sinais de incúria aliados a movimentos perjuros, repulsas.
só o prenúncio da morte, pelos seus poderes, faz todo o sentido…
Milton Trindade nasceu em Quaraí (RS), em 1951. Publicou “Versos Inconlusos”, “Antítese” e “Setembro em versos”. Mantém o blogue https://miltonrtrindade.blogspot.com/