1.
nas línguas daquele mundo
em todas as línguas daquele mundo
havia palavras para designar o humano
ou coisa próxima o bastante
em todas as línguas daquele mundo
os animais se falavam gente
§
2.
do ponto de vista das garras
que nos rasgam a pele enquanto
nos sobem o peito buscando
só deus sabe o quê
uma criança
ou os filhotes
de outro animal
são a mesma coisa
de todos os outros pontos de vista
não
§
3.
era nos olhos que residia
o coração daquela espécie
a seu deus, toda oração
era um lampejar de luzes
cruzando pelas retinas
a espécie vizinha chamava deus
com a respiração
Leandro Durazzo nasceu em Santos (SP) em 1986, e vive em Natal (RN). Antropólogo e tradutor, publicou a plaquete “Dois carcarás” (Círculo de Poemas, 2025) e o romance “terra húmyda” (Cachalote, 2025), entre outras obras. Tem poemas publicados na antologia “É agora como nunca” (org. Adriana Calcanhotto, Cia. das Letras e Cotovia, 2017). “Três perspectivas” é, talvez, parte de um universo de poemas que refletem sobre o que é humano, pensando o humano pelo que não se é.