I.7
Olhares geométricos
A mathematician, like a painter or a poet, is a maker of patterns.
G.H. Hardy
I.
Imaginei uma figura lógica
em cores nunca vistas por mim,
as nove cores já reluziam
os nove espaços em geometria,
bem calculados, quase sem fim;
na congruência das cores vistas,
um poliedro com prisma exato
propaga aos olhos a luz vazia
que se transforma em colorido.
II.
No repouso escuro da retina,
essa luz perpassa os olhos vagos
com filetes da figura exposta,
exibindo um ângulo recente
sem a cor ainda contraposta,
esses olhos privam-se do mundo
enxergando ainda em transparente,
luz vazia com a sombra oposta
que ilumina o poliedro a frente.
III.
Com o estímulo dessa retina,
a figura em visão ganha cores
estampadas em nove segmentos,
todo vértice um prisma sem pátina
produzindo beleza sem flores;
cada cor da sombra em implementos
variados por grau da luz óptica
dá ao mundo um espectro cromático
dando aos olhos visão apoteótica.
V. Finale
A Simetria do Entardecer —
para Bruno Tolentino
17.
Carregamos conosco, cada qual a seu modo
a mesma simetria do entardecer em luz,
talvez uma reação nuclear nos conduz
à visibilidade eclíptica do nodo.
Nossos olhos só captam linha em superfície,
para a física mínima não temos lance,
dependemos da lente feita pelo artífice,
feita de grãos de areia para um novo alcance;
esse alcance em limite não pode ser tudo,
pode ser grande-mínimo ou mínimo-grande,
mecânica celeste ou pontos de Lagrange
para cálculo de astros ou átomos de luz,
como o brilho do sol que aos poucos se reduz
para a glória do dia seguinte, contudo.
18.
Ao entardecer, as cores, todas em silêncio,
dão espaço à matéria negra aparecendo
com estrelas, planetas, o cosmo no céu,
onde pontos brilhantes traçam em crescendo
— como a música em arco de Béla Bartók —
este mundo a partir de ilusões em estoque,
encobrindo esse próprio mundo como um véu;
entre os pontos do céu temos ausência
com a massa e energia gravitando no espaço,
um sistema astronômico em mesmo compasso
deste sol mais poente aos poucos se escondendo,
em moção planetária observada com intento,
através das noções de Kepler, grande alento,
descrevemos a tarde com mais (pa)ciência.
Leonardo Valverde (Niterói-RJ, 1977), é linguista, filólogo, educador, estudioso de línguas antigas como o grego, o latim, o sânscrito e o avéstico, um poliglota na leitura de línguas, tradutor de textos sânscritos, um apaixonado pela matemática, um polímata por natureza; foi professor de língua portuguesa e literatura por mais de dez anos, tem um mestrado em Linguística pela UFF (a primeira pesquisa sobre a gramática de Pāṇini no Brasil); é um melômano e adora andar. Sinfonia de pedras é seu primeiro livro de poesia (ver aqui). Leonardo vive e trabalha como educador há onze anos em Praga, República Tcheca.