POESIA

Três poemas de “As fantasias da Carne”

Imagem: Urutau/Reprodução.

SACRIFÍCIO DE ANTÍNOO

eu poderia esperar
até que tudo caísse
sobre as nossas cabeças
e que as nossas costelas
findassem
sob as nossas
colunas

mas eu não esperei
e ainda posso ouvir
os teus lábios
a sussurrar o meu nome
no leito do Nilo
onde eu agora espero
pela ira deste fim de tarde
em que as águas mansas
se aproximam
para me arrebatar
como os teus beijos

§

NOITES DE ADRIANO

Negras noites de Adriano em Atenas
Sem as dóceis mãos do seu deus-rapaz
Corpo inquieto na imensidão da cama
Quantas vezes quis que fossem as sedas
O seu próprio rio de desterro e ocaso
Quantas vezes lhe pareceu doce o final
Um último suspiro de coração sepultado
Quantas vezes lhe sorriu a boca da morte
A noite escura em sua máscara de amante

Negras noites de Adriano em Atenas
Sem deuses, sem paz e sem homens

§

RAPTO DE GANÍMEDES

No sujo-escuro do parque
à noite
reinam os bichos
os grilos, percevejos
bicho-pau e bicho-folha
grama verde e roxa
e ele à espera do rapto
do amante fugaz
em asas de águia
sente a relva pinicar
suas pernas finas e nuas
sente os olhos vendados
o couro apertado no punho

mãos firmes surgindo
no breu
vindas das sombras

Matheus Rodrigues Gonçalves é natural de Santa Maria (RS), e vive em Porto Alegre desde o primeiro ano de idade. É Mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde atualmente cursa doutorado na mesma área. Em 2023, publicou o seu livro de estreia, “As Fantasias da Carne” (Urutau), obra finalista do Prêmio Jabuti na categoria Poesia de poeta estreante, e do prêmio da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul.

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